“Ela me mandou esperar no banco… Só a vi novamente anos depois, depois de muita dor”

Meu nome é Matteo, e cresci acreditando que minha família era simples, mas cheia de amor. Para os olhos de um menino, minha casa era um refúgio, frágil e acolhedor. Minha mãe, Clara, e meu pai, Lorenzo, pareciam inseparáveis — ou pelo menos era assim que eu via, com a inocência infantil. Papai cuidava de uma pequena oficina no vilarejo tranquilo de Borgo San Vito, entre as colinas da Toscana. Mamãe ficava em casa, dedicada a mim. Eu era filho único, e em minha ingenuidade, acreditava que aquele mundinho duraria para sempre.

Mas, como um raio que rasga o céu, tudo mudou. Meu pai foi demitido de repente. Eu não compreendia o que aquilo significava, mas via que ele já não sorria como antes. Ficava em silêncio, sombrio, como se algo o esmagasse por dentro. Logo conseguiu outro emprego, mas o dinheiro sumia como folhas levadas pelo vento. À noite, os gritos da minha mãe ecoavam pela casa, acompanhados do barulho de pratos quebrando. Eu me encolhia debaixo das cobertas, chorando baixinho, torcendo para que tudo parasse.
O golpe final veio logo depois. Papai descobriu que mamãe estava se encontrando escondida com outro homem. Nossa casa virou um campo de guerra: gritos, lágrimas, e o som seco da porta batendo quando meu pai foi embora. Ele nos deixou — a mim e a minha mãe — no meio dos escombros. Eu o amava tanto que meu peito doía. Implorava à minha mãe que me deixasse vê-lo, mas ela explodia:
“Foi tudo culpa dele, Matteo! Ele nos abandonou, é um canalha!”
Suas palavras me cortavam como facas, mas o meu coração só queria o colo do meu pai.
Então, numa manhã fria, ela apareceu sorrindo — um sorriso que eu não via fazia muito tempo.
“Arrume suas coisas, querido, vamos ao mar!”
Meu coração disparou — o mar! Um sonho. Ela já enchia uma mala velha e rasgada. Tentei levar meus trenzinhos de brinquedo, mas ela me impediu:
“Lá vamos comprar novos, bem mais bonitos.”
Acreditei. Era minha mãe. Como não confiar?
Fomos até a rodoviária, cheia de barulho e pressa. Ela comprou as passagens e disse que antes da viagem faríamos uma parada. Subimos em um ônibus velho, que chacoalhava a cada buraco. Eu olhava pela janela suja, imaginando as ondas e os castelos de areia. Até que paramos em frente a um prédio caindo aos pedaços, com janelas opacas e paredes descascadas.
“Espere aqui, Matteo,” disse ela, apontando para um banco de madeira.
“Vou comprar um sorvete. Fique aqui e não se mexa.”
Assenti, sentei no banco gelado… e esperei.
O tempo parecia não passar. Uma hora. Duas. Três. Ela não voltava. O sol foi embora, o frio aumentou, e um medo apertou meu peito. As luzes se acendiam nas janelas desconhecidas, e eu ainda acreditava que ela apareceria, com um sorriso e um sorvete. Mas ela nunca voltou. A noite caiu, densa, e eu fiquei ali — um menino sozinho, abandonado. Chorei, chamei por ela, mas minha voz sumia no vazio. Cansado, tremendo, me encolhi no banco e adormeci.
Quando acordei, não estava mais na rua. Estava numa cama quente. Abri os olhos. Um quarto estranho. Por um instante, pensei que mamãe tinha voltado e me levado até ali.
“Mamãe?” chamei.
A porta se abriu… e era meu pai. Atrás dele, uma mulher que eu não conhecia.
Levantei num salto, com o coração acelerado:
“Pai! Onde está a mamãe? Ela saiu pra comprar sorvete e sumiu! Cadê ela?”
Ele se sentou ao meu lado, com o rosto duro, cheio de dor. Pegou minha mão e disse:
“Matteo, sua mãe te abandonou. Ela foi embora. E não vai voltar.”
Foi como ser atingido por um trovão.
Abandonado?
Isso não era possível. Mães não fazem isso. Eu chorei, gritei que era mentira, que ela prometeu me levar ao mar. Mas ele me abraçou forte e repetiu:
“Ela não vai voltar, filho.”
Era uma verdade cruel. E ele não tentou escondê-la.
Os anos passaram. Nos mudamos para Positano, uma vila à beira-mar onde as ondas batiam nas pedras o dia todo. A mulher que estava com meu pai se chamava Giulia. Era doce. No começo, eu a rejeitei. Mas, com o tempo, comecei a chamá-la de mãe — não a que me abandonou, mas a que ficou, cuidou, amou. Tivemos uma irmãzinha, Sofia, e pela primeira vez, senti o que era ter uma família de verdade. Um lar sem gritos, sem fugas, sem promessas quebradas.
Quando fiquei mais velho, papai me contou o resto. Na manhã seguinte ao abandono, mamãe ligou. Fria, deu o endereço e desligou. Ele correu para me buscar. Ela perdeu os direitos sobre mim, e nunca mais ouvimos falar dela.
A vida seguiu. Fomos morar numa casa maior, estudei, me formei com honras, consegui um ótimo emprego. Quando juntei dinheiro suficiente, comprei meu próprio apartamento no centro de Positano. Papai e Giulia me ajudaram em tudo.
Certa noite, voltando do trabalho sob chuva, vi uma figura sentada num banco em frente ao meu prédio. Me arrepiei. Ela levantou o rosto e disse:
“Matteo…”
“Sou sua mãe.” A voz trêmula.
Fiquei paralisado. Uma mulher envelhecida, quase irreconhecível.
“Por quê agora? Depois de tantos anos?”
Peguei o telefone e liguei para papai e Giulia.
Eles chegaram rápido. Meu pai, sereno, disse:
“Cabe a você decidir, filho… se ela merece um lugar na sua vida.”
Olhei para ela — a mulher que me deixou sozinho naquela noite gélida. E tudo o que senti foi um vazio. O interfone tocou. Papai foi atender, ela tentou segui-lo para dentro. Eu me levantei e disse:
“Você não é minha mãe. Minha mãe é quem me criou, quem esteve comigo quando você fugiu. Não quero ouvir desculpas. Vá embora. E não volte mais.”
Ela chorou. Mas eu não cedi.
Ela se afastou, sumindo na noite. Eu me virei, abracei papai e Giulia com toda a força.
“Eu amo vocês,” disse, com a voz embargada.
“Obrigado por tudo.”
Eles eram minha família. Minha verdade.
E ela?
Apenas o fantasma de um passado que não me define mais.
Não abandone seus filhos. Eles não pediram para nascer — e merecem amor, não ausência. Eu, Matteo, sei disso melhor do que ninguém.