HISTÓRIAS

O segredo que destruiu o nosso “até que a morte nos separe”.

Achei que meu marido e eu estaríamos juntos até que a morte nos separasse, como diziam nossos votos, mas descobri um segredo horrível que ele escondia. A verdade sobre sua vida dupla foi revelada por nossa filhinha, o que me forçou a garantir que ele nunca mais pudesse me machucar.

Mark e eu estávamos casados há sete anos. Eu tinha trinta e quatro, era designer gráfica freelancer e trabalhava de casa. Até pouco tempo atrás, achava que nosso casamento era perfeito e inabalável. Tudo desmoronou na noite da festa em comemoração à sua promoção.

Mark e eu éramos “aquele” casal — aquele que todos admiravam e com quem gostavam de se comparar no brunch. Parecíamos tão naturais juntos. Ele segurava minha mão enquanto eu pegava o ketchup — como recém-casados no supermercado!

Ríamos das mesmas piadas, completávamos as frases um do outro e sempre tínhamos assunto. Mesmo nos momentos difíceis, voltávamos ao nosso ritmo como se fosse memória muscular.

Os dois primeiros anos tentando ter um bebê foram os únicos momentos em que nosso casamento pareceu frágil. Cada teste negativo me afastava um pouco mais da alegria, como uma maré silenciosa. Houve meses em que eu me perguntava se a culpa era minha por não conseguirmos aumentar nossa família.

Passamos meses em consultas médicas, recebendo apenas frustrações silenciosas. Meu coração se partia ao ver amigos postando fotos de ultrassons enquanto eu encarava testes negativos. Achei que nunca conseguiria engravidar naturalmente. Então, quando finalmente fiquei grávida, foi um milagre!

Quando Sophie nasceu, tudo se encaixou novamente. Ela foi o fio que uniu os pedaços soltos. Finalmente, eu tinha minha menininha perfeita para a vida perfeita que acreditava ter. Mas eu nunca poderia imaginar o que estava por vir.

Nossa filha tinha quatro anos na época. Era brilhante, curiosa e absurdamente sincera. Gostava de suco de laranja sem bagaço e sempre anunciava quando precisava ir ao banheiro — até no meio da igreja.

A vida estava boa. Além de termos concebido e recebido a luz da minha vida, financeiramente também estávamos bem. Mark acabava de se tornar sócio da empresa! Para comemorar, a firma organizou uma festa corporativa em um salão no centro da cidade.

O lugar era rústico, com tijolos à vista e luzes penduradas. Sophie e eu nos vestimos para a ocasião. Ela usava um vestido rosa rodado com presilhas de unicórnio, e eu estava deslumbrante com um vestido azul simples.

Sabendo como minha filha era comportada, não hesitei em levá-la. Quase toda a empresa parecia se curvar diante de Mark. Garçons passavam com taças de champanhe, enquanto uma banda de jazz tocava ao fundo.

A cada três pessoas, uma parabenizava meu marido, e eu não poderia estar mais orgulhosa. Segurava a mão de Sophie enquanto estávamos perto da mesa de sobremesas, e Mark se movimentava de grupo em grupo, apertando mãos e aproveitando o momento.

Eu conversava com a esposa de um dos sócios sobre escolas infantis quando Sophie puxou minha manga e disse as palavras mais estranhas:

— Mamãe, olha! É a moça dos vermes!

A voz dela foi mais alta do que eu gostaria, atraindo olhares de várias pessoas — inclusive da esposa do sócio. Abaixei para ficar na altura de Sophie.

— Shh, meu amor, fala baixo. Que vermes?

A mulher com quem eu falava sorriu com educação e se afastou, nos dando privacidade.

— Na casa dela — respondeu Sophie, séria —. Os vermelhos. Eu vi na cama.

Fiquei paralisada. Minha garganta secou na hora.

— Na casa de quem, querida?

Ela apontou o dedinho. Levantei-me e segui a direção. Do outro lado do salão, uma mulher de vestido preto colado ao corpo estava encostada no bar, rindo alto demais. Os cabelos escuros caíam em ondas suaves, os lábios pintados de vermelho intenso. Parecia saber que estava sendo observada — e gostava disso.

Já a tinha visto antes, uma ou duas vezes em eventos da empresa do Mark. Acho que em uma festa de fim de ano, há dois anos, e depois no outono passado. Trabalhava no setor de contabilidade. Tina.

Sempre um pouco próxima demais do meu marido. Sempre íntima demais, pensei, estreitando os olhos.

— O papai disse que ela tem vermes — completou Sophie com naturalidade —. Eu vi quando nós…

Ela parou, franziu a testa, apertou os lábios, pensativa.

Abaixei-me novamente.

— Quando o quê, Sophie?

Ela sussurrou e ficou vermelhinha.

— Não era pra contar. O papai falou que era segredo. Que a mamãe ia ficar triste.

Senti meu estômago despencar.

— Triste? — perguntei, segundos antes de Mark surgir ao meu lado com uma taça na mão e as bochechas coradas pela atenção que recebia.

— Oi — falei com a voz tensa —. Podemos conversar um instante?

— Agora? — piscou — Eu só estava…

— Agora, Mark.

Encontrei a mulher com quem conversava antes de Sophie soltar a bomba e pedi que ficasse com minha filha um momento. Disse à Sophie que papai e eu íamos conversar rapidinho e saímos.

Mark me seguiu até um corredor perto do guarda-volumes.

— O que foi?

— Ela disse que você levou ela na casa da Tina.

Ele piscou e riu.

— Sério? Amor, agora não. Podemos conversar melhor em casa?

Queria resolver ali mesmo, mas percebi que não era nem a hora nem o lugar. Assenti, deixando claro que o assunto não estava encerrado. Voltamos à festa, mas a tensão entre nós era visível.

O caminho para casa foi silencioso. Sophie dormia no banco de trás, alheia à tempestade entre os pais. Mark dirigia com uma mão no volante. Eu olhava pela janela, procurando respostas.

Assim que Sophie foi para a cama, sentei Mark na cozinha.

— Nossa filha disse que viu vermes vermelhos na cama da Tina — voltei ao assunto.

— Eram bobs. Daqueles de cabelo, sabe? Sophie viu, ficou assustada e não parava de falar. Eu disse que eram vermes pra ela parar. Não foi nada demais.

— Você quer que eu acredite nisso?

— Foi uma piada! Tina esqueceu de mandar uns documentos, fui buscar. Sophie estava comigo, entrou por dois minutos. Só isso!

— No quarto dela? — insisti, sem acreditar em uma palavra.

— Não! — respondeu rápido demais. — Quer dizer… não assim. Ela estava me mostrando algo no notebook e Sophie entrou no corredor. Deve ter visto nessa hora.

— Por que mentir? Por que pedir pra ela não contar?

— Não queria que você interpretasse mal — murmurou, ajeitando a gola da camisa.

— Já estou interpretando muito. E talvez tenha uma interpretação certa, não acha?

Ele congelou. Aquilo foi a confirmação que eu precisava.

— Fala a verdade — pressionei.

— Eu falei! Você tá fazendo um drama do nada!

— Já é alguma coisa. Você levou nossa filha à casa de outra mulher. Pediu pra ela mentir. E, de alguma forma, ela foi parar perto da cama.

— Eu não fiz nada de errado.

— Então por que tá suando?

Ele não respondeu. Apenas suspirou e saiu.

Aquela noite não consegui dormir. Fiquei olhando para o teto, com as palavras “A mamãe vai ficar triste” ecoando na minha cabeça como um tambor.

Na manhã seguinte, tomei uma decisão.

Encontrei o contato da Tina no notebook do Mark e enviei uma mensagem. Disse que estava ajudando a organizar a próxima festa de fim de ano da empresa e queria marcar um café rápido pra revisar a lista de convidados. Ela respondeu em menos de cinco minutos com um animado “Claro!”.

Nos encontramos em uma cafeteria a três quadras do apartamento dela. Ela parecia saída de um comercial de cosméticos — cabelo impecável, blusa creme, unhas vermelhas. Pediu um latte de matcha com leite de aveia como se fizesse isso todos os dias.

Depois dos cumprimentos, fui direta.

— Minha filha disse que já esteve na sua casa.

Ela não mudou a expressão. Continuei.

— Disse que meu marido a levou. Que viu vermes vermelhos na sua cama. Imagino que fossem bobs de cabelo, né?

Tina mexeu o latte com calma.

— Me perguntei quando você descobriria — disse.

Não pisquei.

— Ele disse que não demoraria. Que assim que você fosse embora, não precisaríamos mais esconder — respondeu com naturalidade.

— E você se sente bem sendo a segunda opção de alguém? — perguntei, com as lágrimas prestes a cair.

Ela sorriu.

— Me sinto bem sendo a escolhida. Eventualmente.

Me levantei, decidida.

— Ele é todo seu.

No caminho de volta pra casa, me senti mais em paz do que imaginava. Não estava destruída, nem com raiva. Só sabia que tinha acabado.

Nas semanas seguintes, fiz o que precisava. Era como se meu corpo e minha mente já soubessem do que se tratava tudo aquilo. Como se a ideia de um casamento perfeito fosse apenas uma máscara escondendo uma verdade que eu já sabia no fundo.

Solicitei a separação em silêncio. Contratei um advogado. Reuni documentos. Tirei prints. Planejei a guarda da minha filha. Me certifiquei de que cada passo fosse em favor de mim e da Sophie.

Mark nem tentou lutar. Na verdade, se mudou com a Tina pouco tempo depois.

Hoje, pelo que ouço, as coisas não estão tão maravilhosas. Sophie, que agora se recusa a visitar o pai se Tina estiver junto, volta com histórias de brigas entre os dois na hora do jantar. Reclamações sobre regras, guarda compartilhada e por aí vai.

Mark, antes tão carismático, agora mal murmura quando deixa Sophie — um homem cansado da nova vida.

E eu?

Agora estou bem. Durmo a noite inteira depois de meses chorando por um casamento fracassado e por me sentir insuficiente. Disseram que era luto. Me matriculei numa aula de pilates, voltei a desenhar, pintei o quarto da Sophie com estrelas que brilham no escuro.

E às vezes, quando minha filha fala do passado, sua voz doce atravessa qualquer barulho.

— Mamãe — disse certa noite, se encolhendo ao meu lado com seu ursinho preferido —, por que o papai não mora mais com a gente?

Olhei pra ela. Aqueles olhos castanhos enormes, cheios de confiança.

— Porque ele mentiu sobre os vermes.

Ela assentiu, séria como sempre, como se entendesse tudo.

— Mentir é feio.

— É, meu amor — respondi —, é sim.

Ela me abraçou forte.

— Ainda bem que a gente não tem vermes.

Eu ri.

— Ainda bem, meu amor. Ainda bem.

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